José Vieira Mendes - 2009/11/07 (Público)
Estão a faltar (e há público para isso) pequenos cinemas que divulguem obras inovadoras, contemporâneas e de repertórioQuase 70% do mercado de exibição e distribuição de cinema em Portugal é dominado pela ZON Lusomundo. Mesmo assim, o país dispõe de uma excelente rede de salas que vendem mais de metade dos bilhetes de cinema. Estão associadas aos "multiplexes" e às cadeias de exibição, como a UCI/El Corte Inglés e agora os Cinema City: a sua programação só tem feito aumentar o gosto cinéfilo, acentuando a diferença do que é ver cinema em casa e ir às salas equipadas com som e imagem digital. Depois da "morte" do Quarteto em Lisboa e praticamente só com o King, os cinéfilos exigentes e público diversificado têm cada vez menos espaço para ver "outro cinema".
Ao parque cinematográfico português estão a faltar (e há público para isso) pequenos cinemas de um a três ecrãs que divulguem obras inovadoras, contemporâneas e de repertório, com uma programação de arte e ensaio, assente na qualidade, diversidade e independência. Com a facilidade que existe de ver cinema em casa e a dispersão do entretenimento doméstico, cabe agora a essas salas alternativas ajudar o espectador a tornar-se um cinéfilo exigente com sentido crítico. Desta forma, para além das sessões programadas e dirigidas, em vários formatos e géneros (da curta-metragem ao documentário), estas salas poderão proporcionar ao espectador um conjunto de vantagens suplementares: atendimento personalizado, serviços associados (restaurante, bar de diversão nocturna, mediateca, galeria de arte, serviço educativo e de idosos, etc.), informação (revista ou sobre os filmes, encontros com realizadores e a crítica e uma programação alternativa onde se conjuguem outras artes e públicos (infantil e idoso). O grande objectivo destes espaços não-elitistas deverá ser a defesa do cinema como uma expressão artística singular, não sujeita aos critérios exclusivos do mercado.
Esta necessidade não pode ser exclusiva a Lisboa; pelo contrário, deverá ser globalmente harmoniosa em todo o país e, em particular, nas capitais de distrito onde muitos cineteatros estão fechados. Já existem algumas experiências dispersas, mas tudo isto só será possível com a sensibilidade dos poderes públicos e das autarquias. Isto é apoiar uma exploração sensata, concedendo apoios específicos à criação e a modernização das salas, para que mantenham uma programação diferente da forte concorrência dos "multiplexes" e, quanto mais não seja, através dos programas europeus ou pela conjugação de apoios entre o ICA - Instituto de Cinema e Audiovisual e DGA - Direcção-Geral das Artes.
in Público
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